NOMES PRA CACHORRO

Dias atrás vi uma camiseta com uma estampa do Snoop Dogg e pensei "maneiro", claro, "daora". Também é claro que a humanidade tem os ídolos que merece. Snoop Dogg, Nate Dogg, Dr Dre e o Meio Centavo (em dólares é 50 Cents). Mas falando de Brasil, aqui se não tem deveria ter um MC Chulé. Do pé. Qualquer coisa assim. Som de pum. Tuts-tuts. Miau-miau. Porque, bem, a esses rappers ainda se pode atribuir o mérito das criações double g ou das rimazzz estilosazzz cheias de zz como em niggazzz. Já no caso do Brasil, bem, não servem nem pra nome de cachorro.

A pelagem quase loura do meu mais novo amiguinho é, infelizmente para esta crônica, incompatível com o rastafári defumado do icônico personagem acima referido. No entanto, não pôde deixar de ser uma inspiração. Fugindo, é claro, da vulgaridade dos desenhos que só pegam bem em estampas de calcinhas, minha sugestão número um, notadamente irônica, compôs-se de nomes da Westside ou sei lá qual: Notorius Big, venha cá. Vem comer o seu pratinho. Snoopiee, Snoopy Dogg, yo! 

As referências são amplas. Estão condicionadas ao universo imaginativo do ouvinte. Digamos, por exemplo, que um vizinho, desses nascidos no mundo do balacobaco, parente dos Chulés-Dos-Pés, amante das satisfações instantâneas, ouvisse esse chamado. Ele certamente não evocaria o pequeno Charlie Brown nem o jargão de um Salsicha em apuros: “Scooby-Doo, cadê você, meu filho?” Outros, pouco mais velhos, como o meu amigo Bruno, ainda seria capaz de lembrar dos velhos tempos, como deveras se depreende de seu próprio companheiro de quatro patas, o qual, inspirado no famoso São Bernardo hollywoodiano e com a fonética própria de um colono neomato-grossense, batizara de Betovo.

A mim particularmente agrada os nomes não fofinhos. E do mesmo jeito que há prenomes de indivíduos, deixemos bem claro, humanos, como Felicidade, Hilário, Escolástica... porque não, por contraste, chamar os bichos de Pavio, Bolacha, Lajota, Laranja? Aliás, quanto a este último, concorre positivamente uma pré-disposição genética, se excluída a hipótese da fruta, visto que meu bom velho, com a cumplicidade de minha falecida mãe, batizou seus bichanos de Branca e Cinzinha, numa correspondência atrozmente literal, como se vê.

No mais, depende muito da cara do animal. Isto é, do dono. Se for um como este outro meu amigo, bem, se contentará com o visadíssimo Totó. Àqueles que querem prestar homenagens, minha advertência: escolham nomes mistos. Pelé é bom para gente e para cachorro, com o perdão do Édson. Quanto ao meu mais novo chegado, após um assomo de ira, por ter me confundido com um poste no dia em que o trouxe da feira de filhotes, ficou sendo, por dias, Pinto Sujo. Crueldade, crueldade. E ainda agora estou indeciso, hesitante entre a alta categoria presumida por muitos e a realidade dos acontecimentos atuais. Seja como for, tenho tratado meu cachorro por Ministro.

Também não será para sempre, pobrezinho.

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